24 de out. de 2025
Histórias que revelam sobre a mente: como narrativas ajudam a prever sofrimentos mentais em jovens brasileiros
Você sabia que a forma como contamos histórias pode indicar sinais precoces de transtornos mentais?

Pesquisadores brasileiros descobriram que analisar narrativas pode ajudar a identificar jovens com risco de desenvolver ansiedade, depressão ou até psicose. A pesquisa, publicada na revista Scientific Reports e divulgada pela Superinteressante, traz uma nova perspectiva sobre como a linguagem e o pensamento revelam o funcionamento da mente.
Como o estudo foi feito
O estudo envolveu pesquisadores da UFRJ, UFBA, UFPR, UFRN e do Hospital das Clínicas da USP, além da participação da Dra. Natália Mota, cientista-chefe da Mobile Brain e primeira autora da pesquisa.
Eles analisaram as narrativas de 4.501 jovens entre 18 e 35 anos, que responderam inicialmente a um questionário sobre saúde mental. A partir dessa amostra, 174 apresentaram sinais leves de sofrimento psíquico. Em uma segunda etapa, 71 participantes foram entrevistados presencialmente, sendo 42 considerados em risco e 29 no grupo controle.
O método das histórias felizes
Para entender a relação entre linguagem e saúde mental, os pesquisadores aplicaram o protocolo “Happy Thoughts”, que convida os participantes a criar pequenas histórias a partir de três imagens positivas:
um bebê;
um filhote de cachorro;
e um doce.
As narrativas foram gravadas, transcritas e analisadas com um algoritmo desenvolvido pela equipe. Esse programa transforma a fala em um grafo, um tipo de mapa visual que conecta as palavras usadas.
Em termos simples:
Narrativas ricas apresentam mapas com muitas conexões e palavras variadas;
Narrativas restritas mostram repetições e menos diversidade lexical.
Esse padrão ajuda a visualizar como o pensamento flui, revelando pistas sobre a saúde mental do narrador.
O que os cientistas descobriram

Após dois anos e meio de acompanhamento, os resultados mostraram diferenças claras entre os grupos:
Dos 42 jovens considerados em risco;
15 não desenvolveram sofrimento mental;
23 foram diagnosticados com depressão ou ansiedade;
4 evoluíram para quadros de psicose.
Os pesquisadores notaram que aqueles que desenvolveram sofrimentos mentais apresentavam narrativas mais repetitivas e previsíveis, mesmo quando as imagens mostravam cenas positivas.
Essas pessoas também usavam palavras associadas à tristeza e ao medo, indicando ruminação, um padrão de pensamento negativo recorrente e difícil de interromper.
Outro ponto relevante foi a influência da escolaridade:
Jovens com menor nível educacional apresentaram sintomas mais graves, ideias menos elaboradas e maior isolamento social.Isso reforça como a educação tem papel protetor na saúde mental, oferecendo mais ferramentas cognitivas e emocionais para lidar com desafios.
Por que esse estudo é tão importante
A pesquisa destaca um potencial inovador e acessível: usar a linguagem como ferramenta de triagem precoce em escolas e unidades de saúde.
Como o método é simples e de baixo custo, ele pode ser aplicado por profissionais da educação e da saúde para identificar sinais de risco antes que os sofrimentos se agravem.
Segundo a Dra. Natália Mota, da Mobile Brain, essa abordagem não substitui o diagnóstico clínico feito por psiquiatras ou psicólogos, mas pode complementar o cuidado preventivo, tornando a triagem mais inclusiva e eficiente.

O poder das palavras no bem - estar emocional
O estudo mostra que as palavras que escolhemos revelam mais do que pensamos.
Elas expressam não apenas nossas ideias, mas também a maneira como nosso cérebro organiza o mundo.
Observar essas estruturas pode abrir caminhos para uma nova geração de tecnologias na saúde mental, baseadas em evidências e acessíveis à população.
Referências
Superinteressante. Pesquisadores analisam histórias para prever transtornos mentais em jovens brasileiros.
Scientific Reports – Storytelling as a predictive marker of mental health outcomes in Brazilian young adults (2024).
Por: Comunicação Mobile Brain


